O Governo do Estado do Rio de Janeiro está muito bem representando na Secretaria de Estado do Ambiente! O Deputado Estadual, e agora Secretário Estadual de Ambiente do Rio de Janeiro, André Correa, é um político responsável, sempre colocando o serviço público acima de qualquer interesse pessoal. Eu (Newton Almeida) acompanhei seu trabalho no passado, lá pelo ano de 2001, quando fui Secretário de Municipal de Meio Ambiente de Rio Bonito pela primeira vez, e ele é uma pessoa bacana, com ideais, e que sabe exercer sua liderança com competência.
Estamos acompanhando os esforços para a despoluição da Baía de Guanabara, e o compromisso do Governo do Estado do Rio de Janeiro é chegar ao tratamento de 80% de todo o esgoto, antes que seja lançado nas águas desse cartão postal do Rio de Janeiro. Dizem que isso não será possível, já que não há mais tempo. Não pretendo conjecturar sobre isso. Vou apenas comentar sobre uma questão simples e de fácil observação de qualquer cidadão comum, como eu. O lixo flutuante na Baía de Guanabara precisa ser um indicador de melhoria da qualidade de suas águas. Ou seja, não podemos ver qualquer resíduo sólido nas águas da Baía, e na sua orla. Precisamos buscar a meta de não visualizar qualquer lixo nas águas, praias e orla da Baía de Guanabara.
Pensar e escrever é muito fácil. O difícil é planejar e executar, como quando participei do Projeto de Limpeza do Rio Pavuna-Meriti (2008-2009), que foi a razão que me levou a escrever esse blog, e que acabou se tornando uma paixão na vida, editar blogs. A limpeza é um trabalho diário que mobiliza gente, ferramentas e máquinas. Portanto, para a despoluição total da Baía de Guanabara é necessário pensar quanto custa manter a coleta e varrição de lixo em toda a sua orla, e também ao longo da beira dos quase 50 rios que desembocam na Baía de Guanabara, e ainda tem o problema do lixo jogado nas calçadas que com as chuvas caem na galeria de águas pluviais e de lá seguem para as águas da Baía de Guanabara.
Foto do Newton Almeida: Daniel, da equipe do Projeto de Limpeza do Rio Pavuna-Meriti, dia 19 de novembro de 2008, perto de Anchieta, Rio de Janeiro. Quando é que veremos esse rio limpo?
Parece que o Secretário André Correa, mediante orientação de seu corpo técnico, pretende avançar nas eco-barreiras (em cada rio que desemboca na Baía de Guanabara é esticado um cabo que retém o lixo flutuante, e esse lixo é recolhido diariamente por catadores de cooperativas, que reaproveitam o que é possível dos recicláveis) e colocar mais eco-barcos. Então a tarefa de evitar que o lixo seja lançado nos rios, da bacia da Baía de Guanabara, fica por conta das prefeituras das cidades, em número de pelo menos 16. As equipes de limpeza das Prefeituras é que têm de varrer e coletar o lixo antes que ele chegue aos rios, mas se acontecer (e infelizmente acontece muito) de o lixo cair nos rios, então o Governo do Estado é quem coleta esse lixo nas eco-barreiras e eco-barcos. Vou fazer umas continhas simples para dimensionar quanto custaria manter as águas da Baía de Guanabara sem qualquer lixo flutuante, contando apenas com equipes de varrição (garis) e coleta em terra.
Basicamente, podemos dizer que um varredor consegue facilmente manter a limpeza de 500 metros de extensão, ao dia. Sabendo que essa manutenção da limpeza depende da quantidade de lixo que é lançado no local, o que depende da densidade populacional, entre outros fatores. Então, penso que 500 metros de extensão é uma extensão até pequena, para que um varredor ou varredora consiga manter limpo. Abaixo, eu verifiquei, rapidamente, a distância da orla da Baía de Guanabara, para sabermos quantos varredores precisaremos nessa importante missão, e manter a Baía de Guanabara isenta de qualquer lixo flutuante.
A linha verde marca o contorno que utilizei para medir a extensão da orla da Baía de Guanabara. Existe uma sobra nessa distância, pois medi toda a extensão da Área de Proteção Ambiental de Guapimirim (APA de Guapimirim, a região sem urbanização na posição nordeste da Baía), compensando eu não ter medido a Ilha de Paquetá (ao centro e à direita, bem pequena), mas medi a extensão do contorno da Ilha do Governador. A ferramenta do Google Earth (régua) diz que eu marquei: 157 quilômetros. Então, vou arredondar e estimar que a extensão de toda a Baía de Guanabara a ser varrida e ter o lixo coletado, diariamente, é de 150 Km.
Então agora, vou tentar calcular quanto é necessário em dinheiro para coletar o lixo na orla da Baía de Guanabara:
* 1 varredor, precisa de luvas, uniforme, carrinho de mão, vassoura: 12 pares de luva (R$ 180,oo), 2 uniformes ( R$ 80,oo), 1 carrinho de mão (R$ 150,oo), 12 vassouras (240,oo) + pagamento ( R$ 1.200,oo x 12 = 14.400) = R$ 15.000,oo , arredondando, é o custo de um varredor e EPI (equipamento de proteção individual) e ferramentas, por ano.
Se temos 150 km de extensão, e é necessário 1 varredor para cada 500 metros, então termos 300 varredores. O custo da varrição fica em R$ 4.500.000,oo quatro milhões e quinhentos mil reais por ano. Outro ponto, é que em alguns locais, como áreas de manguezal, seria necessário utilizar botes e redes em vez de carrinho-de-mão e vassoura. Mas, em linhas gerais esses números servem de base para termos uma ideia.
* 1 caminhão para cada grupo de 50 varredores, custo diário de R$ 800 reais, custaria R$ 35 mil reais ao mês, ficando em R$ 420.000,oo reais por ano; mas o lixo coletado terá que ser depositado em aterro sanitário; no Estado do Rio de Janeiro, ao redor da Baía de Guanabara já existem opções de aterros sanitários, como o de Nova Iguaçu (Adrianópolis), e do outro lado temos em São Gonçalo, e em Itaboraí. Para cada tonelada depositada no aterro sanitário deve-se pagar algo em torno de R$ 60,oo reais;
Agora é que a estimativa vai ser sem muito compromisso com a realidade, um tanto que sem precisão. Um caminhão para cada 50 varredores, então teremos um total de 30 caminhões, ao redor de toda a Baía de Guanabara, cada caminhão deve depositar pelo menos 50 toneladas de lixo ao dia no aterro sanitário, então a estimativa é de que a cada dia sejam retirados 1.500 toneladas. O custo para depositar esse lixo é: 1.500 (toneladas) x 25 (dias trabalhados) x 12 (meses ao ano) x R$ 60,oo (custo de cada tonelada no aterro sanitário) = R$ 27.000.000,oo vinte e sete milhões de reais por ano, para transportar e depositar, em aterro sanitário, o lixo coletado ao redor de toda a Baía de Guanabara, por um ano!
O custo total é a soma do custo dos varredores e suas ferramentas, uniformes e EPI, mais o transporte feitos pelos caminhões e o destino final em aterro sanitário: R$ 4.500.000,oo + R$ 27.000.000,oo = R$ 31.500.000,oo trinta e um milhões e quinhentos mil reais por ano.
Quem sabe eu cheguei a um número próximo do custo para evitar que qualquer lixo chegue às águas da Baía de Guanabara, a partir de um trabalho diário de cerca de 300 varredores com apoio de ferramentas e 30 caminhões basculante. A questão da coleta e tratamento de esgoto é para outro dia. A maior parte das Estações de Tratamento de Esgoto necessárias para a despoluição da Baía de Guanabara já foram construídas, e algumas já estão em operação. Está faltando ligar a rede à ETE de São Gonçalo, colocar em pleno funcionamento a ETE Meriti, e tem o problema dos rios Caceribu, Macacu, Faria Timbó, Sarapuí, e outros. O tratamento de esgoto exige mais recursos do que a limpeza do espelho d'água. São necessárias obras civis de instalação da rede coletora de esgoto em locais densamente urbanizados, o que já está sendo sendo cogitado, há tempos, de ser substituído por implantação de estações de tratamento de esgoto em tempo seco nos rios.
Concluindo, antes de se pensar em idéias mirabolantes tem-se que fazer o básico, colocar varredores (garis) e caminhões realizando uma coleta eficiente, sem contar com o apoio da população, que historicamente joga o lixo na Baía de Guanabara sem qualquer peso na consciência. Outro ponto em que eu insisto, e ficaria muito contente que essa proposição chegasse ao Secretário de Estado do Ambiente, André Correa, é centralizar a operação de limpeza de toda a orla da Baía de Guanabara em apenas um órgão. Esse órgão seria criado com esse objetivo, e estaria dentro de um Consórcio para a Limpeza e Despoluição da Baía de Guanabara. As Prefeituras seriam lideradas pelo Governo do Estado, com a participação do Comitê da Bacia Hidrográfica da Baía de Guanabara, e pagariam um valor (calculando a extensão de seu território que é banhado pela Baía de Guanabara, entre outros critérios) para a limpeza, transferindo essa responsabilidade, ou o mesmo que contratando o órgão subordinado ao Consórcio. Um único órgão, munido de equipe e maquinário, seria bem mais fácil para que a população e meios de comunicação pudessem ter acesso aos números, pudessem reclamar, sugerir e participar desse processo de limpeza. É a questão da governança, não sobre as águas da Baía de Guanabara, mas sim para executar a rotineira limpeza do lixo, evitando que ele chegue à Baía de Guanabara.
Foto do Newton Almeida: Baía de Guanabara, na Praia do Flamengo, ao lado da Marina da Glória, em 24 de janeiro de 2014, às 16:30.
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