terça-feira, 10 de março de 2015

CEMPRE Informa Desenvolvimento Passa pelo Fim dos Lixões ....





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Ásia busca inspiração na experiência brasileira
O reaproveitamento de recicláveis põe em marcha um sistema que não apenas permite sua reinserção na cadeia produtiva como assegura renda para milhões de pessoas em todo o mundo.
De acordo com um estudo do Banco Mundial, trata-se de um contingente de 15 milhões de indivíduos (equivalente à população do Equador), dos quais 4 milhões estão na América Latina, onde pelo menos 75% trabalham de forma insalubre em lixões.
“Essas pessoas sofrem de doenças crônicas e envelhecimento precoce”, explica Ricardo Schusterman, especialista em Desenvolvimento Social do Banco Mundial. A eliminação dos lixões e a reorganização desses catadores em cooperativas são etapas essenciais para lhes assegurar maior dignidade e renda. Segue nesse sentido a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), promulgada em 2010, que determinava o fim dos lixões em todo o país até agosto de 2014. Por pouco esse prazo obteve prorrogação de mais quatro anos, vetada pela presidente da República, Dilma Rousseff - veto este confirmado por senadores e deputados, em 17 de dezembro.
“A dimensão do problema da gestão dos resíduos sólidos é significativa. No entanto,
o Brasil tem obtido progresso consistente no setor, apesar das dificuldades que
envolvem a questão.”
Catalina Marulanda, do Banco Mundial.
“O Brasil produz mais de um terço do lixo sólido municipal da América Latina e Caribe. Desde 2000, investimentos em aterros sanitários mais que dobraram a quantidade de dejetos sólidos descartados adequadamente — hoje, mais da metade do lixo produzido é descartado em aterros sanitários. Ainda assim, há grande disparidade entre as práticas de descarte nas regiões brasileiras. Aproximadamente 70% do lixo gerado é descartado de forma correta no Sul do país, já nas regiões Norte/Centro-oeste são menos de 30%”, enumera Catalina Marulanda, especialista líder da Unidade Urbana da Região da América Latina e Caribe do Banco Mundial.
Segundo a especialista do Banco Mundial, “os principais desafios continuam sendo a descentralização das municipalidades responsáveis pela gestão de resíduos sólidos que, em muitos casos, possuem capacidade técnica limitada para preparar projetos viáveis, capazes de atrair o setor privado. Além disso, muitos municípios não têm recursos para realizar processos de licenciamento ambiental complexos para a construção de novos aterros e enfrentam passivos sociais e ambientais significativos por conta de áreas de descarte desregulamentadas”.
Os consórcios intermunicipais têm se mostrado uma boa solução para resolver problemas comuns como a construção e gestão de aterros, o desenvolvimento da coleta seletiva e a formalização dos catadores. “Num país com a dimensão do Brasil, a gestão dos resíduos sólidos é ainda mais complexa. No entanto, há que se registrar o progresso realizado nos últimos quinze anos”, destaca Catalina. Segundo dados do Banco Mundial, um latino-americano produz entre 1 e 14 quilos de lixo por dia. Se fosse separado na fonte - ou seja, nas próprias residências, aproximadamente 90% poderia ser convertido em combustível ou reciclado. A responsabilidade compartilhada - premissa da PNRS - mostra-se, portanto, cada vez mais necessária para lidar com a questão dos lixões sob todos os ângulos.
Para saber mais
Reciclando Idéias
Em 2014, São Bernardo do Campo inaugurou duas Centrais de Triagem operacionalizadas por cooperativas de catadores.
Com quase 812 mil habitantes, o município vem avançando fortemente em seu programa de coleta seletiva: o sistema porta a porta, que começou a ser implantado em junho de 2013, já cobria 100% da área urbana em dezembro do ano passado.
“Quando iniciamos o processo, tínhamos cerca de 0,8% de materiais triados por meio da coleta seletiva e alcançamos hoje 4%, com meta de chegar a 10% até o final de 2016”, diz Mauricio Cardozo, diretor de Limpeza Urbana da cidade. “A coleta é realizada por uma empresa escolhida por processo licitatório que presta serviço à prefeitura através de uma Parceria Público-Privada (PPP). Já a triagem e a comercialização dos recicláveis são feitas por duas cooperativas de catadores, a Cooperluz e a
Reluz, que revertem a renda aos seus cooperados.”
Fotos: Prefeitura de São Bernardo do Campo
O sistema deu um salto em fevereiro do ano passado, quando foi inaugurada a primeira Central de Triagem para receber, sobretudo, papel, plástico, metal e vidro, com capacidade para 25 toneladas por dia. A operação, inicialmente realizada pela Cooperluz, passou em fevereiro para a Reluz.
A expansão da coleta porta a porta ampliou a necessidade de triagem dos recicláveis. Por esse motivo, em dezembro, foi inaugurada a segunda Central - desta vez, com capacidade para 100 toneladas diárias e operada pela Cooperluz. O processo nas duas Centrais envolve em torno de 110 catadores, com potencial para alcançar 210 cooperados.
Na Cooperluz, a animação é grande com as novas instalações e as possibilidades que o novo desafio oferece. “Triplicamos o número de catadores para dar conta do volume de trabalho. Além dos equipamentos que facilitam a triagem, as condições de trabalho melhoraram muito, inclusive com todos os equipamentos de proteção necessários para nossa segurança”, orgulha-se Viviane Conceição Souza, tesoureira da Cooperluz. “Foi muito importante também o salto na arrecadação: antes, tínhamos uma retirada mensal entre R$ 20 mil e R$ 30 mil e hoje alcançamos até R$ 150 mil por mês.”
“A coleta seletiva é percebida como um dos serviços com
melhor aceitação pela população do município.”
Mauricio Cardozo, diretor de Limpeza Urbana
Segundo Mauricio Cardozo, as perspectivas são ainda melhores com a maior conscientização da população e o trabalho feito junto às instituições de ensino para ampliar o volume de materiais destinados à reciclagem. “Promovemos ações nas escolas, para sensibilizar as crianças e jovens, temos equipe de educação ambiental trabalhando diretamente nos bairros, abordando as pessoas e falando sobre a importância da coleta seletiva, e campanhas publicitárias que buscam ampliar o alcance das mensagens. Hoje, a coleta seletiva é percebida como um dos serviços com melhor aceitação pela população do município.”
Outra vantagem da reciclagem é reduzir os custos do manejo dos resíduos sólidos, uma vez que o lixo recolhido em São Bernardo do Campo é enviado a um aterro privado na cidade de Mauá. “Entre as maiores conquistas da coleta seletiva, estão a conscientização das pessoas para uma questão vital, a redução dos resíduos dispostos em aterros e a geração de trabalho e renda para pessoas de baixo poder aquisitivo”, resume o diretor de Limpeza Urbana.
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Mercados e Recados
Com atuação multidisciplinar, o Instituto Inhotim vem se consolidando também como agente do desenvolvimento sustentável.
Prova disso é seu programa de coleta seletiva que, ao mesmo tempo em que beneficia o meio ambiente, contribui com a Associação dos Catadores do Vale do Paraopeba (Ascavap), por meio da doação dos cerca de 800 quilos de recicláveis recolhidos mensalmente no local.
A visibilidade de uma iniciativa como a de Inhotim - e seu efeito na conscientização dos participantes - há que ser levada em conta quando se pensa que o local recebeu, em 2014, mais de 356 mil visitantes. Esse afluxo se explica pelo fato de o Instituto sediar um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e ser considerado o maior centro de arte ao ar livre da América Latina.
Fotos: Daniela Paoliello
Localizado em Brumadinho (MG), cidade com cerca de 30 mil habitantes a apenas 60 quilômetros de Belo Horizonte, o Instituto
começou a ser idealizado pelo empresário mineiro Bernardo de Mello Paz na década de 80. Além da arte contemporânea, sua coleção botânica reúne espécies raras e de todos os continentes. Os acervos são mobilizados para o desenvolvimento de atividades educativas e sociais junto a públicos de diversas faixas etárias. Essas características fazem de Inhotim uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) que tem construído vários pontos de interlocução com a comunidade. Um bom exemplo é seu programa de coleta seletiva, formalizado em 2010.
“Entendemos que a Ascavap nos presta um importante
serviço e nós dependemos da associação para atingir
nossas metas ambientais.”
Sulamita Moreira Fernandes, coordenadora de Gestão Ambiental
“A maior parte dos recicláveis doados é segregada pelos funcionários tanto da área administrativa quanto operacional. Todos os produtos adquiridos para o almoxarifado e os restaurantes têm suas caixas de papelão e embalagens plásticas doadas e esse é o maior volume de material que geramos. Além disso, cada sala possui uma caixa de madeira reaproveitada, feita na própria marcenaria do Inhotim, para armazenamento de recicláveis que são destinados à associação” detalha Sulamita Moreira Fernandes, coordenadora de Gestão Ambiental. “Também doamos sobras de materiais das atividades educativas com escolas. A separação do material reciclável gerado pelos visitantes nas áreas livres ainda é um desafio, pois apesar de nossos esforços, ele ainda se mistura com resíduos orgânicos, inviabilizando sua doação.”
Um projeto chamado “Reciclar é Contemporâneo” e a ação da equipe de educação ambiental procuram motivar e conscientizar o público interno e os visitantes. A Tetra Pak fez a doação de mais de 250 placas recicladas de embalagens longa vida para a confecção de lixeiras e móveis e para atividades com a finalidade de educação ambiental. A empresa também doou 400 telhas recicladas de embalagens longa vida para a cobertura do galpão da Ascavap e um kit de equipamentos com prensa, balança, transpalete e empilhadeira manual. Para completar, a associação foi incluída no Programa Cooperativa em Ação da Tetra Pak que visa melhorar sua produtividade, organização e administração.
“Mantemos um relacionamento bem próximo e fazemos visitas periódicas à Ascavap, além de termos uma comunicação aberta que nos ajuda a aprimorar a parceria”, conta Sulamita. De fato, na associação, o apoio do Instituto Inhotim, inclusive com a doação semanal de cesta básica, e da Tetra Pak tem sido muito bem-vindo. “A constância da doação é muito importante
para nós e os equipamentos facilitam bastante nosso trabalho”, comenta Maria Izabel Apolinário, presidente da Ascavap, entidade com 17 associados.
Para saber mais
Mercados e Recados
O modelo brasileiro de reciclagem com inclusão social dos catadores vem se difundindo pela América Latina. Recentemente, foi anunciado um projeto na capital da Nicarágua, Manágua, que tem como foco a formação e o fornecimento de equipamentos para melhorar a qualidade da gestão e da operação de cooperativas de reciclagem.
O projeto é desenvolvido em cooperação com a Área Metropolitana de Barcelona Ressoc -Alcaldía (Prefeitura) de Manágua, AMB-ALMA. A prioridade do Ressoc são cidades e áreas que oferecem possibilidade de progresso na inserção de segmentos sociais que vivem de atividades informais relacionadas à coleta de resíduos, ampliando a eficiência econômica e ambiental da reciclagem e da reutilização de materiais.
O projeto de Manágua - centrado na formalização das atividades de coleta, na geração de emprego, na formação de cooperativas e na melhoria do tratamento dos resíduos sólidos urbanos - segue o modelo desenvolvido no Brasil. Para isso, a troca de experiências entre trabalhadores do segmento em toda a região é essencial.
Foi esse o pano de fundo para a formação da Red Latinoamericana de Recicladores (Red Lacre) que conta com 16 países. Sua história começou com as primeiras associações formais de catadores existentes na Colômbia, há mais de 35 anos, e segue conforme o sistema brasileiro, considerado pela Red Lacre como o país que “consolidou mais rapidamente uma política de reconhecimento e organização que deve ser um exemplo para o mundo”.
A conquista da Nicarágua já repercute entre os demais países e assegura a adequação da rota seguida. "Estamos unindo nossas forças na questão das políticas públicas e da valorização de nosso trabalho. Sem dúvida, isso é muito importante para o fortalecimento da categoria em toda a América Latina e, principalmente, para o intercâmbio das boas práticas", destaca Eduardo Ferreira de Paula, do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) e delegado brasileiro na Red Lacre.
Para saber mais
Preço do material reciclável
P = prensado L = limpo *preço da tonelada em real
Estes preços de venda dos recicláveis são praticados por programas de coleta seletiva, sendo a informação de sua inteira responsabilidade. Atenção programas de coleta seletiva e cooperativas: para providenciarmos a publicação dos preços recicláveis, solicitamos o envio de cotações até o dia 15 de cada mês ímpar do ano (janeiro, março, maio, julho, setembro,
novembro).



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